quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O DIA EM QUE OS DISCOS VOADORES CHEGARAM


"Naquele dia, os discos voadores pousaram. Centenas deles, dourados,
Silenciosos, descendo do céu como grandes flocos de neve,
E o povo da Terra ficou
      olhando enquanto desciam,
Esperando, boquiabertos, para saber o que nos esperava dentro deles
E nenhum de nós sabendo se estaríamos aqui amanhã
Mas você nem notou porque

Aquele dia, o dia em que os discos voadores chegaram, por uma coincidência,
Foi o dia em que os túmulos devolveram seus mortos
E os zumbis surgiram da terra macia
ou irromperam, cambaios e de olhos baços, irrefreáveis,
Vindo até nós, os vivos, e nós gritamos e corremos,
Mas você não notou nada disso porque

O dia dos discos, que também foi o dia dos zumbis, foi também
O Ragnarök¹, e as telas de televisão nos mostraram
um navio feito de unhas de homens mortos, uma serpente, um lobo,
Todos maiores do que a mente podia conceber,
      e o câmera não conseguia
Se afastar o suficiente, e então os Deuses surgiram
Mas você não os viu chegando porque

No dia dos discos-zumbis-deuses-em-guerra
      as comportas cederam
E cada um de nós foi engolido por gênios e espíritos
Oferecendo-nos desejos, maravilhas e eternidades
E charme e esperteza e
      corações valentes e potes de ouro
Enquanto gigantes funga-fungavam por toda
      a terra, e abelhas assassinas,
Mas você nem fazia ideia disso porque
Naquele dia, o dia dos discos dia dos zumbis
Dia das fadas e do Ragnarök, o
      dia em que vieram os grandes ventos
E nevascas, e as cidades se transformaram em cristal, o dia
Em que todas as plantas morreram, os plásticos se dissolveram, o dia
Em que os computadores se rebelaram, as telas nos dizendo
      que iríamos obedecer, o dia em que
Os anjos, ébrios e confusos, saíram trôpegos dos bares
E todos os sinos de Londres tocaram, o dia
Em que os animais nos falaram em sírio, o dia do Yeti,
Das capas flutuantes e da chegada
      da Máquina do Tempo,
Você não notou nada disso porque
estava sentada no seu quarto, sem fazer nada,
nem lendo, nem mesmo isso, só
olhando para o telefone,
imaginando se eu iria ligar."
Coisas Frágeis 2, de Neil Gaiman

¹ Na mitologia nórdica, Ragnarök é a batalha que levará ao fim do Mundo
(de forma semelhante ao Armageddon).


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"No meu sonho...

  ... você vinha, rápido. Chegava pertinho de mim e, aflito, pousava sua mão
  no meu rosto e segurava sem querer um pouquinho do meu cabelo.
       Puxou-me um pouquinho e quando muito próximos... você não podia. Você
  disse que não podia. E eu entendia. Mas a gente queria, a gente sentia...
       Não me lembro como acabou.
       E esse foi o beijo da minha vida...
      O que eu nunca dei, o que eu nunca ganhei."

Sim, mais Neil.

      Esse trechinho, tenho vontade de postar desde a criação do blog.
Não sei se é exatamente o "meu momento" sentimental, mas queria compartilhá-lo...

    "Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável. O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outro idiota, entra em sua vida. Você dá a essa pessoa um pedaço seu, e ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa besta como beijar você ou sorrir, e de repente sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e lhe deixa chorando na escuridão. E então uma simples frase como 'talvez devêssemos ser apenas amigos' se transforma em estilhaços de vidro rasgando seu coração. Isso dói. Não só na sua imaginação ou mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, é uma verdadeira dor-que-entra-em-você-e-o-destroça-por-dentro. Nada deveria ser assim, principalmente o amor.


Odeio o amor."

Mas ao contrário...


O desenhinho fofo, acho que pertence a ele.

Sutil criatividade






Artista Felipe Morozini

Vi no http://juliapetit.com.br/, que ADORO!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dores

   Tem algo preso, engasgado, não sabe o que é...
   Incomoda. Dá vontade de gritar. Alto.
   Talvez a isso deem o nome de angústia. Mas, afinal, o que é angústia?
  Quê é todo esse sentimento que o toma, sem ao menos dizer de onde vem ou mais importante, quando vai? 
   Por vezes disfarçado de ansiedade, de tristeza, de uma vontade louca de desaparecer... um vazio.
   Sente-se oco, sem vida...

   Aí as horas de mais um dia cheio de tarefas e responsabilidades passam e atropelam tudo aquilo que o sujeito possa sentir ou desejar. Nem mesmo tem tempo ou oportunidade para entender o que se passa dentro de si. Sua individualidade é esmagada pelo "bem maior".
   Aí parece que o Nada se instala. E o Tudo é varrido...

   Mas outro dia começa. Novos e velhos sentimentos o invadem (invasão porque não há escolha) como um turbilhão! Ora é a alegria disfarçada, ora o amor dissimulado. Existe verdade? Existe liberdade? Onde?

  Quê fazer?
  Esvazie a alma e comece de novo.